Hisrich; Peters; Shepherd (2009), ao analisarem a história ocidental a partir do fim da “Idade Media”, perceberam que o empreendedorismo assumiu diferentes características nos vários contextos de desenvolvimento econômico do Ocidente, além de concluírem que nem sempre houve uma relação íntima entre os que conduziam os processos empreendedores e o risco de insucesso dos mesmos.
Segundo análise dos autores, na Idade Média, o termo começou a ser usado para designar tanto participantes de grandes projetos de produção quanto os seus administradores. Nestes projetos os empreendedores não corriam riscos, pois os recursos eram fornecidos pelos clérigos, poção da sociedade medieval mais influente. Já a partir do século XVII houve uma ligação do fator “risco” com o empreendedorismo haja vista que os empreendedores firmavam contratos com os governos que, em caso de lucros ou perdas, o excedente ficava com o empreendedor. No século seguinte (XVIII), período em que a “pessoa com capital” foi diferenciada daquela “que precisava de capital”, a industrialização oportunizou o desenvolvimento de novas tecnologias como forma de reação às rápidas transformações mundiais impulsionadas pelo capitalismo. Nos séculos XIX e XX, ocorreu que houve uma comparação entre o empreendedor e o administrador, o que Schumpeter, em 1911, quando escreveu a primeira edição de seu livro, questionou, ao diferenciar a função de um e do outro.
No livro "Teoria das Relações Internacionais" (lançado pela diplomacia brasileira), Thales Castro (2012) ao discorrer sobre a história da ascensão da Inglaterra - lar da Revolução Industrial e potência mundial já naquela época - afirma que o sucesso de Adam Smith (filósofo e economista escocês, 1723 – 1790) autor de "A Riqueza das Nações" (1776), aproveitou-se que o“[...] momento de industrialização da Inglaterra demandava ideário teórico e de justificativa para os novos momentos de acúmulo do capital industrial com base no empreendedorismo […].” (CASTRO, 2012, p.364)
Portanto, a história demonstra que o emprego do empreendedorismo comum e do empreendedorismo inovador auxiliou a catapultar economias, auxiliando, por exemplo, na luta contra o desemprego. O desemprego é uma crise que o Brasil vem enfrentando há anos. Para muitos dos economistas, pesquisadores, escritores, envolvidos e interessados no assunto, a relação entre o empreendedorismo e o emprego, são íntimas. Dolabela concluiu que “O empreendedorismo é a melhor arma contra o desemprego.” (DOLABELLA, 2006, p. 30).
Em pesquisa publicada no ano de 2013, intitulada "Estágios de desenvolvimento econômico e políticas públicas de empreendedorismo e de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) em perspectiva comparada: os casos do Brasil, do Canadá, do Chile, da Irlanda e da Itália", o pesquisador e escritor Gilberto Sarfati, ao analisar a importância que o empreendedorismo passa a ter para o desenvolvimento econômico, fato observado em análises a outros países, viu que: "As micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) representam mais de 98% do total das empresas nas economias desenvolvidas, mais de 60% do emprego na economia e cerca de 50% do Produto Interno Bruto (PIB). Por outro lado, nas economias menos desenvolvidas as MPMEs empregam pouco mais de 30% da força de trabalho e representam pouco mais de 10% do PIB [...]" (SARFATI, 2013, p. 26)
As diferenças extremas entre as economias desenvolvidas (como EUA, Japão e Canadá) e as em desenvolvimento (tal como a brasileira) apontadas neste importante artigo demonstram a importância que a atividade empreendedora pode ter no desenvolvimento econômico (geração de empregos, renda, tributos para o estado) de uma região econômica.
Dados como este, apontam um caminho a se seguido para que o Brasil consiga superar suas deficiências econômicas. No artigo supracitado, Sarfati (2013) ao analisar várias pesquisas e obras que se debruçam sobre o tema, viu que há “[...] uma correlação positiva entre a incidência da atividade empreendedora e o crescimento da economia, aumento do emprego, diminuição da desigualdade social [...] e desenvolvimento de iniciativas de sustentabilidade.” (SARFATI, 2013, p. 27)
Estudo intitulado de "The Entrepreneurial Challenge – A comparative study of entrepreneurial dynamics in China, Europe and the US", criado pelo “Swedish Entrepreneurship Forum" (principal organização da rede nacional sueca para iniciar, conduzir e comunicar pesquisas relevantes em termos de políticas no campo do empreendedorismo, inovação, dinâmica de negócios e crescimento), do ano de 2016, em parceria com o GEM, demonstra o que pensa a sociedade empreendedora mundial a cerca da importância deste fenômeno econômico para o mundo contemporâneo: "Por que o empreendedorismo é importante? Porque os empresários são, como disse Schumpeter, "os agentes da mudança". A primeira revolução industrial foi, em conjunto com mudanças institucionais, impulsionada por empreendedores, assim como a segunda e a terceira revoluções industriais. Hoje, enfrentamos um nível sem precedentes de desafios globais que não podem ser resolvidos sem a contribuição do empreendedorismo global." (BRAUNERHJELM et al, 2016, p. 11)
Tanto para os suecos, estadunidenses e chineses, quanto também, para os pesquisadores e colaboradores brasileiros do GEM, o empreendedorismo é imprescindível para que haja um desenvolvimento econômico, é o que afirmam em relatório do ano de 2016. Segundo estes colaboradores brasileiros do Monitor, desde que estes começaram a fazer a pesquisa GEM, há 17 anos, o empreendedorismo tem se mostrado uma ferramenta de desenvolvimento econômico e que traduz o desejo de muitos brasileiros, pois, atualmente: "ter um negócio é o quarto sonho da nossa população, atrás de viajar pelo Brasil, comprar a casa própria ou um automóvel. Segundo a pesquisa, 36% dos brasileiros possuem um negócio ou realizaram alguma ação, no último ano, para ser dono da sua própria empresa." (LIMA et al, 2016, p. 15)
Como foi demonstrado através da análise da teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter (1997), a inovação trás uma disputa saudável para a economia, realocando fatores de produção, fomentando o desenvolvimento, emprego e renda. Portanto, o empreendedorismo inovador, já demonstrou ao longo dos anos que promove um dinamismo econômico nos países que concentram esforços na sua busca sistêmica, adequando a sua estrutura produtiva para que o empreendedorismo busque a inovação.
O interesse pelo empreendedorismo vem aumentando em todos os países, assim como em organizações internacionais e organizações não-governamentais, havendo uma crescente busca por implementação de políticas públicas e de cursos voltados para o assunto, como vem tendo no Brasil. Esta percepção advém, em boa parte, da ”[...] convicção de que o poder econômico dos países depende de seus futuros empresários e da competitividade de seus empreendimentos [...]” (DORNELAS, 2015, p. 12)
REFERÊNCIAS:
CASTRO, Thales. TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Brasília: FUNAG, 2012. Disponível em: <http://funag.gov.br/loja/download/931-Teoria_das_Relacoes_Internacionais.pdf>. Acesso em 20 de Dezembro de 2018.
BRAUNERHJELM, P et al. THE ENTREPRENEURIAL CHALLENGE: a comparative study of entrepreneurial dynamics in China, Europe and The US. Swedish Entrepreneurship Forum, 2016. Disponível em: < https://entreprenorskapsforum.se/wp-content/uploads/2016/06/GEM_Internationell_Rapport_2016_Webb.pdf> Acesso em 3 de novembro de 2018.
DOLABELLA, F. O SEGREDO DE LUISA. São Paulo: Editora de Cultura, 2006.
DORNELAS, José. EMPREENDEDORISMO: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Empreende / LTC, 2015.
HISRICH; PETERS; SHEPHERD. EMPREENDEDORISMO. 7 ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
SARFATI, Gilberto. ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E POLÍTICAS PÚBLICAS DE EMPREENDEDORISMO E DE MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS (MPMES) EM PERSPECTIVA COMPARADA: os casos do Brasil, do Canadá, do Chile, da Irlanda e da Itália. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/14409 > Acesso em: 10 de Julho de 2018.
SCHUMPETER, A Joseph. OS ECONOMISTAS: Joseph Alois Schumpeter. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1997. Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=102926> Acesso em 15 de Junho de 2018.
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